Você já se perguntou se é possível simplesmente parar de sentir?
Na famosa série de ficção científica Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, o personagem Data é um androide projetado para servir como segundo oficial e chefe de operações em naves estelares. No entanto, uma característica intrigante de Data é sua incapacidade de sentir emoções, o que torna difícil para ele compreender o comportamento humano. Com o objetivo de se tornar mais “humano”, Data decide instalar um “chip de emoção” em seu cérebro artificial.
Sem dúvida, uma das qualidades fundamentais do ser humano é a capacidade de sentir emoções. Mas o que são, exatamente, as emoções? Qual é a função de cada uma delas? Será que é possível parar de senti-las?
Este artigo responderá a essas perguntas, além de oferecer dicas importantes sobre como lidar com as emoções no cotidiano. Parafraseando as ideias de Daniel Goleman: “As pessoas que conseguem identificar com precisão o que estão sentindo e por quê geralmente têm uma vantagem na vida.”
O que são as Emoções?
Uma emoção é, em sua essência, uma experiência. Portanto, ao nos referirmos a uma emoção, estamos realmente falando da experiência que ela proporciona. Essa experiência é geralmente desencadeada por algum estímulo, como uma situação específica, um evento, uma pessoa, um pensamento ou uma lembrança. Dependendo do contexto e dos fatores envolvidos, as emoções podem ser percebidas como agradáveis ou desagradáveis. Além disso, é importante destacar que, na maioria das vezes, experimentamos um “misto de emoções” em vez de uma única emoção isolada. Essas diferentes emoções se entrelaçam, formando uma complexa rede de sentimentos.
Quais as funções das Emoções?
Existem cinco emoções básicas: alegria, raiva, medo, tristeza e nojo. As emoções desempenham funções essenciais, como a prevenção, correção e defesa de nossa sobrevivência, pois nos energizam e nos impulsionam a agir. Além disso, são ferramentas fundamentais de comunicação humana, já que nossas expressões corporais, assim como as dos outros, revelam intenções que vão além das palavras. As emoções também regulam nossas relações sociais, permitindo que avaliemos situações e ajustemos nosso comportamento.
Embora raiva, tristeza, medo e nojo sejam frequentemente vistas como emoções negativas, elas nos alertam para ameaças e riscos de perda, desempenhando um papel crucial na nossa proteção. Por outro lado, a alegria, geralmente associada a uma emoção positiva, fortalece nossas relações sociais, aprimora o intelecto e até contribui para a nossa saúde física.
É possível parar de sentir emoções?
A resposta para essa pergunta é: não, não é possível deixar de ter emoções. No entanto, em algumas condições disfuncionais, pode-se ter dificuldade em reconhecer e expressar emoções.
A alexitimia é uma condição em que a pessoa tem dificuldade de identificar e descrever emoções, ou seja, ela não consegue reconhecer quando está sentindo algo e, principalmente, nomear o que sente. Essa deficiência funcional aprendida afeta o processamento cognitivo saudável do indivíduo.
Embora a pessoa com essa condição tenha emoções, ela não consegue “converter” essas emoções em sentimentos, que são gerados por um circuito neural complexo. Como resultado, não há geração de sentimentos nem a possibilidade de cultivá-los. Essa condição intrigante afeta cerca de 10% da população em geral.
Além da alexitimia, existem outras condições semelhantes que merecem atenção, como o embotamento afetivo e o transtorno de despersonalização.
Desenvolvendo a Inteligência Emocional
Goleman, em sua obra Inteligência Emocional, afirma que pessoas com uma prática emocional bem desenvolvida têm maior probabilidade de se sentirem satisfeitas e eficientes em suas vidas, o que lhes permite dominar os hábitos mentais que impulsionam sua produtividade.
Em contraste, aqueles que não conseguem exercer controle sobre sua vida emocional enfrentam batalhas internas que acabam sabotando sua capacidade de concentração e clareza de pensamento.
Ter inteligência emocional envolve conhecer as próprias emoções, ou seja, ter autoconsciência. Pessoas que possuem esse conhecimento têm maior capacidade de controlar seus sentimentos e discernir suas emoções. Quanto mais seguras são sobre o que sentem, mais conscientes estão de suas emoções em relação às decisões pessoais, sejam elas pequenas ou grandes.
Inteligência emocional também inclui a habilidade de lidar com as emoções, algo que só é possível ao desenvolver primeiramente a autoconsciência. Quando alguém falha em lidar com as próprias emoções, pode acabar travando constantes batalhas internas contra o desespero. Aprender a gerenciar nossas emoções nos capacita a desenvolver mais resiliência.
Outro aspecto essencial para o desenvolvimento da inteligência emocional é a capacidade de se motivar e usar as emoções a serviço de um objetivo. Exercitar o autocontrole emocional, como ao adiar a gratificação e conter a impulsividade, é parte fundamental desse processo.
Além desses aspectos, mais dois são cruciais para a inteligência emocional: reconhecer emoções nos outros e lidar com relacionamentos. Ao desenvolver a autoconsciência emocional, a empatia surge como uma habilidade resultante, tornando-nos mais sensíveis aos sinais do ambiente ao nosso redor e às necessidades ou desejos dos outros.
Conclusão
Em resumo, as emoções são uma parte inerente da experiência humana, desempenhando papéis essenciais em nossa sobrevivência, comunicação e relações sociais. Embora não seja possível deixar de sentir emoções, condições como a alexitimia demonstram a complexidade do reconhecimento e da expressão emocional. Desenvolver inteligência emocional é fundamental para uma vida mais satisfatória e produtiva, o que nos permite não apenas compreender e gerenciar nossas próprias emoções, mas também fortalecer nossos relacionamentos e nos conectar mais profundamente com os outros.
Finalizo com um frase de Jorge Bucay:
“Não somos responsáveis pelas emoções, mas sim pelo que fazemos com as emoções.”
Até a próxima!
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Referências Utilizadas
FREIRE, L. Alexitimia: dificuldade de expressão ou ausência de sentimento? Uma análise teórica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. 1, p. 15–24, jan. 2010.
GOLEMAN, D. Inteligência Emocional. A teoria revolucionária que define o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/8074332/mod_resource/content/2/Intelig%C3%AAncia%20emocional%20by%20Daniel%20Goleman.pdf>. Acesso em: 28 ago. 2024.
HOFMANN, Stefan G. Emoção em terapia: da ciência à prática. Porto Alegre: Artmed, 2024. E-book. ISBN 9786558821861. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786558821861/>. Acesso em: 27 ago. 2024.
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MORAES, J. Alexitimia: A incapacidade de identificar emoções e sentimentos. 2023. Vitat. Disponível em: <https://vitat.com.br/alexitimia/>. Acesso em: 28 ago. 2024.
Síndrome de Klüver-Bucy também é uma condição caracterizada pelo embotamento de emoções, em especial uma dificuldade em reconhecer situações de perigo, ou seja, dificuldade em sentir medo.