Ao explorar a crescente demanda por saúde mental entre adolescentes e os fatores relacionados ao adoecimento nessa faixa etária, deparei-me com vários comentários que ilustram as preocupações e desafios enfrentados por eles hoje em dia:

“Nós também temos outros problemas que nos direcionam cada vez mais para a infelicidade, depressão e ansiedade. Muitos adultos têm a mania de falar que nós não temos preocupações e nem motivos para estarmos tristes, mas só quem sabe disso somos nós mesmos.”

“Eu sou uma, e tenho meus motivos. Exemplos são: bullying, pressão psicológica, ansiedade, solitude, muito tempo em casa, falta de amigos, o padrão da sociedade, e estar sendo pressionada a fazer aquilo que eu não consigo dentro e fora da escola.”

“Já perdi a conta de quantas vezes ouvi ‘você não tem problema nenhum, sua única obrigação é estudar’, até acabar diagnosticada e precisar tomar medicamento.”

Por outro lado, os pais também expressam suas preocupações, demonstrando o quanto essa fase é desafiadora para eles:

“Sou mãe de uma menina de 12 anos, vim parar aqui de tanto buscar a melhor forma de ajudar e entender essa fase tão difícil. Fácil para a mãe também não é. A gente tenta ajudar e nem sempre acerta; nós erramos também e muito, sentimos medo de não fazer certo, mas a busca tem que ser constante.”

“Meu adolescente fez um canto para ele com mesa e computador. Fecha a porta e desaparece no mundo dele.”

“Meu filho vai fazer 13 anos e é um bom menino, mas às vezes responde de uma forma não muito legal. Tento resolver sempre na base do diálogo, com calma.”

Hoje, vamos entender um pouco mais sobre a adolescência e abordar alguns pontos relevantes sobre essa fase, o que abrirá sua mente e expandirá seu conhecimento sobre o assunto, tornando-o mais consciente sobre sua própria realidade e a de quem você ama.

A Puberdade

Embora muitas vezes usados como sinônimos, os termos “adolescência” e “puberdade” têm significados distintos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a adolescência como a faixa etária dos 10 aos 20 anos. Esse período é dinâmico e cheio de mudanças hormonais, psicossociais, emocionais, cognitivas e intelectuais.

A puberdade, por outro lado, termina antes do fim da adolescência e é frequentemente considerada como o marcador mais importante do início dessa fase. Mas, afinal, o que é puberdade? Trata-se do período de rápida maturação física, que envolve alterações hormonais e corporais. Para além das mudanças fisiológicas, o desenvolvimento da puberdade no adolescente é acompanhado de várias mudanças psicológicas.

Um aspecto psicológico da puberdade presente tanto em meninos quanto em meninas é a preocupação com o próprio corpo e com a própria imagem. Essa preocupação (e insatisfação) é mais forte justamente no início da adolescência.

 

 

Desenvolvimento Emocional e Social

Identidade e Autoconhecimento

Como os adolescentes se veem? Como eles se descrevem?

Um ponto interessante sobre a adolescência é que os teens carregam consigo uma noção de quem são e o que os faz diferentes dos outros. O desenvolvimento do “eu” (conhecido na Psicologia como self) e da singularidade é uma das principais forças motivadoras na vida de um adolescente. Assim, eles desenvolvem um autoconhecimento, o que afeta diretamente no desenvolvimento da autoestima.

Relacionamentos

Quando falamos sobre a área social e relacional, é certo dizer que os adolescentes têm grande necessidade de estarem conectados e de serem aceitos pelos amigos e pelo grupo mais amplo de pessoas da mesma faixa etária. No caso de se sentirem “aceitos”, podem desfrutar de alegria e satisfação; mas, se sentirem que estão sendo excluídos e menosprezados, podem ter que lidar com emoções de estresse e ansiedade. Vimos que uma das preocupações mais intensas no auge da puberdade é a autoimagem. Na área dos relacionamentos com seus pares, não é diferente. Para muitos deles, o aspecto mais importante é como os outros adolescentes os veem.

Um fator que influencia esse aspecto da capacidade de relacionar-se são os traços de personalidade. Um adolescente muito tímido, por exemplo, possui maior tendência a ser deixado de lado por seus pares do que um adolescente mais sociável. Por isso, é importante destacar que, para que haja um desenvolvimento social saudável, é necessário que o adolescente tenha boas relações com seus pares. O isolamento social está diretamente ligado a várias formas de problemas e transtornos, como vícios, problemas acadêmicos e emocionais.

Influência das Redes Sociais

Outro fator característico da adolescência é o uso excessivo das tecnologias (tempo gasto em experiências virtuais).

Em uma edição da pesquisa TIC Kids Online Brasil, realizada em 2023, observou-se que 88% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos possuem perfil nas redes sociais e que, entre os adolescentes de 15 a 17 anos, essa proporção sobe para 99%. As redes sociais mais utilizadas são: Instagram (a preferência dos teens), YouTube e TikTok.

As redes sociais, assim como outras ferramentas, tornaram-se grandes auxílios para a sociedade em geral, beneficiando e facilitando nossas vidas. Elas não devem ser vistas como problemas em si, mas como facilitadoras de processos comunicativos, educativos, informativos e de entretenimento. No entanto, é o mau uso dessas ferramentas que pode levar a problemas reais e significativos.

No caso dos adolescentes, o uso descontrolado e mal gerenciado pode afetar diretamente o seu desenvolvimento físico, psíquico e emocional. A pressão social gerada pelas redes sociais e a busca incessante por curtidas e aceitação social têm fortes implicações emocionais, aumentando os riscos de ansiedade e até mesmo depressão.

Tendo em vista essa problemática, é fundamental que o adolescente tenha contato com a literacia digital, termo que se refere à capacidade que um indivíduo tem de acessar a Internet e seus conteúdos, compreendê-los e utilizá-los, compartilhando e consumindo de forma crítica, ética, segura e intencional. Assim, o adolescente e futuro jovem adulto saberá usar as redes sociais com intencionalidade e responsabilidade.

Comunicação Aberta e Escuta Ativa: Diálogo entre Pais e Adolescentes

Você sabe o que é socialização recíproca? É o processo pelo qual o adolescente socializa com os pais, assim como os pais socializam com ele. É uma via de mão dupla.

Ao falar da relação entre pais e adolescentes, muitas vezes associamos isso à palavra “conflito“. Por quê? Como vimos, a puberdade e as consequências que ela causa podem afetar muito o comportamento do adolescente, que, por sua vez, influencia a reação dos pais.

 

 

Um ponto a ser considerado são as mudanças cognitivas do adolescente. Na infância, os pais têm maior domínio de argumentação e menos trabalho para convencer a criança a obedecer. Porém, com o aumento das habilidades cognitivas na adolescência, o filho ou filha provavelmente não aceitará mais tão facilmente alguns argumentos dos pais. Eles irão questionar, querer saber os detalhes e a razão de estarem sendo disciplinados ou de alguma decisão tomada.

O adolescente também desenvolve um pensamento idealista em relação aos pais, o que influencia na relação. O pai ou a mãe passa a ser avaliado com base no que o adolescente acredita ser um pai ou mãe ideal. Assim, na vida real, onde é inevitável que haja alguma divergência de opinião e comunicação acalorada, o adolescente comparará essa realidade ao que deveria ser ideal. Isso pode levar a reações exageradas com um simples comentário feito pela mãe, por exemplo. Diante disso, muitas vezes os pais respondem à falta de obediência e reações exageradas do adolescente com o aumento da pressão pela obediência.

Um aspecto que pode ajudar tanto pais quanto adolescentes a melhorarem essa relação é a busca por equilíbrio: os pais precisam compreender que a transição da infância para a idade adulta é um longo processo, com altos e baixos, erros e acertos. Cobrar demais uma conduta adulta de um adolescente não é sábio. Em contrapartida, também não é prudente que os pais sejam permissivos demais e deixem que o adolescente aja conforme sua própria vontade. É inevitável que haja algum grau de conflito entre pais e adolescentes, mas a boa notícia é que esses conflitos (dentro de limites saudáveis) podem ser muito benéficos e ter uma função positiva na relação entre pais e filhos.

Saúde Mental na Adolescência

Não poderia finalizar este artigo sem falar sobre um ponto que tem sido cada vez mais debatido: a saúde mental. Esse assunto se torna ainda mais delicado e crucial quando falamos sobre adolescentes. A adolescência é um período da vida propenso ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas, sendo a ansiedade e os transtornos de humor os mais frequentes.

Por isso, é necessário entender o limite entre o comportamento normal e anormal (patológico) nessa fase. Quando devemos nos preocupar com o comportamento do adolescente? Como podemos saber se algumas atitudes já não são saudáveis?

Alguns indicadores de um funcionamento não saudável do adolescente são:

• Comportamento exagerado ou insuficiente em comparação ao de outros adolescentes em geral.
• Infração às normas (sociais, escolares ou familiares).
• Atraso no desenvolvimento de determinadas competências afetivas e sociais.
• Quando o comportamento do adolescente interfere de forma negativa em sua capacidade de se adaptar ao ambiente em que está inserido.

Até mesmo o fato de o adolescente ser “comportado demais” pode indicar um funcionamento não saudável. Nesse sentido, os grupos sociais (como a família, escola e outros) em que o adolescente está inserido desempenham um papel importante para indicar até que ponto um comportamento pode ser considerado normal ou anormal, pois são esses grupos que possuem regras e determinam a conduta e a maneira certa de se comportar.

Conclusão

Como vimos, a adolescência é uma fase complexa e desafiadora, tanto para os próprios adolescentes quanto para aqueles ao seu redor. Compreender as mudanças físicas, emocionais e sociais que ocorrem nesse período é essencial para promover um desenvolvimento saudável, equilibrado e uma vida mais leve. Podemos ajudar nossos adolescentes a navegar por essa fase de transição de forma mais segura e confiante, cultivando o diálogo aberto, a empatia e o apoio.

Finalizo esse artigo com uma frase do psicólogo americano Laurence Steinberg:

“A adolescência é um período crítico para o desenvolvimento, onde as experiências podem ter efeitos profundos e duradouros”.

 

Até a próxima!

 

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Referências Utilizadas:

AZEVEDO, Alda Elizabeth Boehler I.; REATO, Lígia de Fátima N. Manual de adolescência. Barueri: Editora Manole, 2019. E-book. ISBN 9788520463024. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520463024/. Acesso em: 16 ago. 2024.

D’MASCHIO, Ana Luísa. 88% das Crianças e Adolescentes entre 9 e 17 Possuem Perfil nas Redes Sociais. 2023. Disponível em: <https://porvir.org/acesso-a-internet-criancas-adolescentes/#:~:text=A%20pesquisa%20aponta%2C%20tamb%C3%A9m%2C%20que%2088%25%20das,(mais%20acessado%20pelos%20mais%20jovens)%20e%20TikTok>. Acesso em: 16 ago. 2024.

LITERACIA Digital. Glossário TDICs – Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação. Fiocruz. Disponível em: https://www.tdics.epsjv.fiocruz.br/glossario/literacia-digital#:~:text=A%20literacia%20digital%20%C3%A9%20operacionalizada,%2C%20%C3%A9tica%2C%20segura%20e%20intencional. Acesso em: 16 ago. 2024.

O IMPACTO Das Redes Sociais Na Saúde Mental Dos Adolescentes. AngioLife. Disponível em: https://www.angiolifeclinica.com.br/blog/o-impacto-das-redes-sociais-na-saude-mental-dos-adolescentes/#. Acesso em: 16 ago. 2024.

SANTROCK, John W. Adolescência. Porto Alegre: AMGH, 2014. E-book. ISBN 9788580552416. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580552416/. Acesso em: 16 ago. 2024.